Seria possível, através da análise genética, prever as chances de um casamento dar certo?
A formação de vínculos afetivos existe em quase todas as sociedades humanas e em outras espécies de mamíferos. Assim sendo, pensa-se que os vínculos afetivos entre o casal tenham evoluído para aumentar as chances de sobrevivência e de sucesso da prole.
Os relacionamentos monogâmicos são caracterizados pela preferência seletiva do parceiro, coabitação, criação da prole pelo pai e pela mãe, comportamento de cumplicidade entre o casal e, até, de agressividade a estranhos.
Na cultura ocidental, o amor romântico – definido como o desejo de união com um indivíduo específico e especial que envolve comprometimento e desejo sexual – está intimamente entrelaçado com o casamento.
Assim, o amor romântico estaria associado à satisfação e estabilidade do relacionamento.
Os declínios no amor romântico sinalizariam problemas para os casais, pois estariam relacionados à insatisfação conjugal, maior atenção a parceiros alternativos, casos extraconjugais e divórcio.
Além disso, as crises do casamento estariam associados a taxas mais altas de problemas de saúde física e mental, suicídio e homicídio.
Portanto, é importante entender o que pode ajudar os casais a sustentar o amor romântico para garantir o sucesso dos casamentos e da unidade familiar.
A Oxitocina é associada à empatia, à confiança, à generosidade, ao altruísmo, à formação de vínculos afetivos, de amor e de paixão, bem como na escolha de um parceiro.
Sua área de ação é enorme e abrangeria, ainda, a atividade sexual, a gestação, o nascimento, a amamentação e a formação do vínculo mãe e filho.
As primeiras referências sobre ela datam do início do século passado e a relacionavam, apenas, ao trabalho de parto e à amamentação.
Produção da oxitocina
A Oxitocina seria produzida no hipotálamo e, após, conduzida até a hipófise posterior, onde seria estocada.
Assim sendo, ela exerceria suas funções através de sua condução, por meio de projeções, a outras áreas do cérebro e, também, através da corrente sanguínea.
Ou seja, dependendo das necessidades e da área de atuação, a oxitocina poderia agir como hormônio ou como neurotransmissor.
Oxitocina atuaria no parto e na lactação.
A Oxitocina foi descoberta em função do seu papel na maternidade. Desse modo, durante décadas, os estudos foram direcionados, quase que exclusivamente, ao trabalho de parto e amamentação.
Se daria durante o trabalho de parto, estimulando a musculatura do útero e provocando as contrações responsáveis por expulsar o bebê.
Após o nascimento, seu papel de destaque ocorreria através da promoção da lactação. Ou seja, através da estimulação dos mamilos, grandes quantidades de Oxitocina seriam liberadas, no organismo, fazendo o leite ser produzido e jorrar.
Oxitocina atuaria, também, no comportamento humano não relacionado à vida em sociedade.
Foi apenas nas últimas décadas que os cientistas começaram a ampliar o foco de seus estudos e verificaram que a Oxitocina atuaria, também, sobre o comportamento humano.
Logo, descobriram sua participação em comportamentos que não estavam associados à vida em sociedade [os comportamentos “não-sociais”], como, por exemplo, o aprendizado, a percepção da dor, a ansiedade e até o comportamento alimentar.
Oxitocina desenvolveria e formataria os vínculos afetivos e o relacionamento humano.
A grande participação da Oxitocina nos comportamentos “sociais” começou a ser compreendida recentemente.
Áreas de profunda complexidade, como a formação de laços afetivos e vínculos de confiança, a memória social, o comportamento conjugal e sexual, passaram a ser estudadas.
Em nossos dias, a Oxitocina passou a ser conhecida, também, como o “Hormônio do Amor“. Recebeu este título após os estudos terem mostrado que os níveis da Oxitocina atingiam níveis estratosféricos durante o orgasmo.
No orgasmo, a Oxitocina atinge seus níveis máximos.
Estudo avaliou níveis de confiança e segurança no relacionamento de 178 casais.
Pesquisa realizada, recentemente, nos Estados Unidos, foi baseada no conceito de que a oxitocina estaria envolvida na formação de vínculos afetivos e na atenuação do registro de memórias ruins.
Assim sendo, pesquisadores da Universidade de Yale resolveram estudar 178 casais com o intuito de analisar se a Oxitocina poderia influenciar a felicidade conjugal.
Os participantes, individualmente, realizaram testes específicos para a análise dos sentimentos a respeito do grau de segurança, confiança e felicidade no casamento. Após, providenciavam uma amostra de saliva para análise genética.
Genes para Oxitocina foram analisados em busca de mutações em receptores.
Os resultados da pesquisa sugeriram que a longevidade de um casamento/relacionamento feliz poderia ser influenciada pelos genes da Oxitocina que cada um traria consigo.
A presença de uma variação ou mutação genética, nos Receptores da Oxitocina, poderia interferir em sua produção e nas ações por ela exercidas sobre vínculos afetivos, amor, paixão e tolerância.
As falhas da Oxitocina influenciariam, negativamente, o comportamento do casal. e, também, nos mecanismos de ação e reação decorrentes [na tolerância, por exemplo], potencializando os danos.
A conclusão foi impressionante!
A análise do material genético cedido concluiu que a presença do genótipo GG no receptor para a Oxitocina em, ao menos, um dos cônjuges estaria associado a uma maior satisfação conjugal e longevidade do casamento.
Desse modo, demonstrou que o relacionamento do casal seria influenciado, não, apenas, pelas vivências ao ao longo dos anos, mas, também, pela carga genética da Oxitocina.